Instituição se manifestou pela primeira vez sobre morte de Odailton Charles Albuquerque Silva. Polícia encontrou traços de chumbinho no sangue do educador.
A direção do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 da Asa Norte, em Brasília, se manifestou pela primeira vez sobre a morte do professor Odailton Charles Albuquerque da Silva, de 50 anos, por suposto envenenamento. Em nota divulgada nesta sexta-feira (7), o colégio público nega que algum servidor tenha oferecido qualquer líquido ao colega (veja mais abaixo).
O professor passou mal na escola no dia 30 de janeiro. Em áudios enviados a amigos, ele disse que o mal estar teria começado após tomar um suco de uva oferecido por uma colega com quem tinha desavenças. Na última terça-feira (4), Odailton morreu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Segundo a Polícia Civil, um laudo pericial encontrou traços do veneno de rato conhecido como chumbinho no sangue e no vômito do professor. As investigações, no entanto, ainda não determinaram o que de fato ocorreu.
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A polícia afirma que, por enquanto, não há suspeitos do crime. "Há apenas investigados", disse o delegado responsável pela investigação Laércio Rossetto.
"A única hipótese descartada é a morte natural."
O que diz a direção da escola
Na nota publicada nesta sexta, a direção do CEF 410 refuta, em 12 pontos, informações que foram divulgadas após a morte do professor.
Nenhum servidor de nossa instituição jamais serviu qualquer coisa ao professor Charles no dia do evento;
A única substância líquida que o professor Charles ingeriu no CEF 410 Norte foi água, o que o fez por vontade livre, colhendo-a na sala dos professores diante de outras pessoas que ali estavam;
Ao contrário do que foi divulgado pela imprensa, não havia nenhuma reunião agendada entre a atual equipe gestora e o ex-diretor;
No dia do fatídico evento, encontravam-se na escola alguns servidores terceirizados e professores que, de forma voluntária, foram preparar as dependências que estavam em obras, antes da volta às aulas;
Nas dependências da escola, antes e durante a chegada e permanência do professor Charles, encontravam-se aproximadamente 14 pessoas, entre professores, servidores terceirizados e pedreiros, incluindo 03 policiais militares do batalhão escolar;
A nova diretoria assumiu a gestão em 02/01/2020 sem nenhum processo de transição com a gestão anterior, uma vez que o professor Charles estava ausente da escola desde 19/12/2019.
O professor Charles não foi recebido com hostilidade na escola, antes, com o respeito que lhe era devido em razão do cargo que exercia;
O professor Charles a todo tempo que permaneceu na escola, aproximadamente 2 horas, antes de passar mal, em nenhum momento ficou sozinho com a servidora apontada;
Quando o professor Charles começou a passar mal, foi imediatamente socorrido pelos presentes;
A servidora apontada foi a responsável por determinar que ligassem para a emergência do SAMU no momento que foi informada, na sala dos professores, que o professor Charles estava passando mal;
A referida servidora foi a responsável pelas ligações para a esposa do professor Charles assim como para os amigos;
Todos os procedimentos iniciais de socorro ao professor foram prestados pelo vigilante da escola, pela professora apontada e outros servidores que ali se encontravam até a chegada dos bombeiros.
O posicionamento da direção da escola desmente informações do próprio professor nos áudios enviados aos colegas enquanto passava mal.
Além de afirmar que havia tomado um suco oferecido pela colega, Odailton alegou na gravação que ela o recebeu "com ódio no olhar" e que teria oferecido o suco quando os dois estavam sozinhos. Ele também levantou a hipótese de ter sido envenenado.
Veja transcrição abaixo:
"Minha amiga, eu tô te mandando a mensagem porque tu demora a atender. Aí eu fico agoniado. Eu cheguei aqui, a mulher com uma cara feia da p* para mim. Os quadros que eu tinha deixado já tavam tudo empilhado para eu carregar. Minha folha de ponto para assinar. Quase que ela não deixa eu entrar na escola.
Aí depois ela viu que eu estava de boa e tal, não sei o quê. Mas a mulher com ódio, ódio, ódio nos olhos, né? Aí eu fui, aí ela me chamou na salinha ali para assinar a folha de ponto. Aí quando eu fui ver ainda me deu uma garrafinha de suco de uva. Tomei até um susto. Uma garrafinha dessas, né... Aí eu falei: ‘Não vou tratar mal, né? Não vou ser deselegante não’. Eu fiquei meio receoso, mas aí fui e tomei.
Eu não sei...agora, já tem uns 15 minutos. Agora, tá me dando uma dor de barriga desgraçada. Será se essa p* botou algum laxante para me sacanear? Botou alguma coisa dentro dessa p* desse suco de uva. Porque não é possível a dor na barriga que eu tô.
Eu hein, tô grilado agora, agora eu tô grilado. A mulher me olha de cara feia. Aí depois que o pessoal sai todo de perto, que ela me põe ali naquela salinha, que era do Bira, para assinar a folha, e me vem com uma garrafinha de suco de uva e me dá.
Sei lá, agora eu tô com o estômago aqui f*, doendo. Não sei que p* é essa. Tô com medo vou até ligar para a minha mulher. Mas vamos esperar, não deve ser nada não, deve ser dos meus remédios. Vai dar tudo certo. Ai, não é possível que ela tenha a coragem. Ah meu pai do céu."
Suposta denúncia de corrupção
Em novos áudios divulgados nesta sexta-feira, o professor disse que faria uma denúncia contra a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto por suspeita de desvio de recursos. Na gravação, Odailton não cita nomes e nem detalha provas, diz apenas que vai reunir documentos.
O professor citou supostas práticas de propina e "rachadinha" entre funcionários da escola. "Está havendo racha de dinheiro, propina, para beneficiar empreiteiros", diz no áudio.
Em nota, a Secretaria de Educação informou que "aguarda as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar".
Investigações
Em coletiva de imprensa na quinta (6), o delegado Laércio Rossetto afirmou que a professora citada por Odailton negou ter oferecido qualquer suco ao colega. Um vigilante da unidade também disse não ter visto qualquer cena do tipo.
Além dos traços de chumbinho, os peritos também encontraram indícios de relaxante muscular nos materiais biológicos de Odailton. No entanto, não foram localizados traços do suco.
Por Afonso Ferreira, G1 DF
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